Georges Stobbaerts, que durante anos transmitiu fielmente a técnica e o espírito do Aikido de Mestre Ueshiba e das Artes do Budo, é em si mesmo um cadinho em que se cruzam fortes influências orientais e ocidentais: Artes marciais do Kerala, na Índia do Sul, sufis marroquinos e andaluzes, feérico flamengo espanhol, rigor e riqueza das danças hindus, despojamento espiritual das disciplinas japonesas. Neste Athanor, foi sendo elaborada, pouco a pouco, uma quinta-essência do Zen, do Yoga e do espírito do Budo, uma arte do movimento altamente simbólica onde o leque substituiu o sabre: o TENCHI TESSEN.

Em japonês, Ten Chi significa o par primordial Céu-Terra, entre os quais se ergue o homem, separando-os e unindo-os, simultaneamente, pela sua verticalidade e a sua posição central. Tessen significa leque, e representa o sopro de vida, que anima e cria harmonia. É ao mesmo tempo o instrumento humano por excelência, que quando se abre exibe a multiplicidade dos possíveis, e quando se fecha os reconduz à unidade.

Esta dança hierática é uma arte do movimento que se situa no instante presente. Não aspira a ser um espectáculo para outros, mas uma prática para si. É também uma coreografia colectiva em que se manifestam pólos opostos como a criatividade e a receptividade, a firmeza e a doçura, a tenra fragilidade do bambu e o relâmpago fulgurante do gesto perfeito. É com admiração e regozijo que assistimos ao nascimento desta nova arte tradicional que sugere tantas figuras emblemáticas. Ela unifica, de forma feliz e com igual lealdade, o Corpo e a Consciência.

Tara Michael
Investigadora do Centre National de Recherche Scientifique, França


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